sábado, 26 de outubro de 2013

O Palacete do Visconde - parte 1

O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público (1) 

Fonte: BETEMPS, Leandro R. O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público - parte 1. Jornal Diário da Manhã, Pelotas, RS, Brasil, p. p.12 - p.12, 26 abr. 2008. 



Casarão do Visconde de Jaguary, Rua Félix da Cunha, Pelotas/RS. Fonte: Álbum de Pelotas, 1922.



1. Os primeiros tempos 

Em 1758, o coronel Tomás Luís Osório recebeu a primeira sesmaria da região de Pelotas, porém não consta que a tenha ocupado, nem ao menos visitado. A ocupação das terras ocorreu propriamente a partir de 1761 com a presença do capitão Luís Gonçalves Viana, o administrador da Estância Real do Bojuru, que atravessou a Lagoa dos Patos e aqui tinha criação de gado. Embora passasse algum tempo nestas terras, não parece que as colonizou verdadeiramente. Apenas tinha gente sua, aqui trabalhando e cuidado do rebanho. A efetiva ocupação destas terras se deu com a invasão de Rio Grande pelos espanhóis, o que fez com que alguns casais viessem se colocar a salvo nos areais e veredas do outro lado do Sangradouro da Lagoa Mirim (que depois passou a ser conhecido por arroio e canal de São Gonçalo). 

Com o retorno de Rio Grande às mãos dos portugueses, as terras banhadas pelo arroio “das pelotas” foram sendo distribuídas em sesmarias. Entre elas: a Sesmaria da Feitora que foi posteriormente subdividida em lotes menores, dos quais alguns foram comprados por Domingos de Castro Antiqueira. A de Pelotas, que inicialmente de Tomás Luís Osório, foi vendida pela viúva e descendentes para Isabel Francisca da Silveira cujos herdeiros a dividiram em Laranjal, Galateia, Palma, Graça e Patrimônio. E a de Monte Bonito, que localiza-se entre os arroios Pelotas e Santa Bárbara e onde está hoje a cidade de Pelotas. Esta última, por sua posição privilegiada, em lugar mais alto, abastecido por água e porto, mas longe dos alagamentos, atrai muito interessados e logo é fracionada em datas de terra cada vez menores. Entre os principais proprietários estão Inácio da Silveira Casado e seu irmão Francisco Pires Casado, este último esposo de Mariana Eufrásia da Silveira. 

A abundância de terras e rebanhos, a realização de tropas e a necessidade de pouca mão de obra, desde cedo fez com que não só o couro, mas também a carne salgada aparecesse como um elemento de riqueza capaz de atrair e fixar gente naquele lugar. O português José Pinto Martins sistematizou um costume já existente e esta indústria progrediu trazendo outros empreendedores e uma acumulação de riquezas que criaram as condições para o aumento da população. 


Fonte: disponível em http://www.sfreinobreza.com/Nobj.htm. Acesso em 11 de maio de 2008

Um destes empreendedores foi Domingos de Castro Antiqueira, batizado em 23/04/1763 em Viamão no Rio Grande do Sul, sendo filho de José de Castro Antiqueira, natural de San Roque de Assunção, no Paraguay e de Maria da Conceição de Ávila, natural de Viamão, esta por sua vez, filha do argentino Pedro de Ávila e de Simoa da Costa, nascida em Laguna, Santa Catarina. Domingos veio para o Rio Grande e passou a negociar rebanhos que vinham da Banda Oriental em direção a São Paulo e às recém-fundadas charqueadas do distrito do Serro Pelado, terceiro distrito de Rio Grande. Domingos logo criou sua própria charqueada às margens do arroio Pelotas e para lá mudou-se com a esposa Joana Maria Bernardina, filha de Manuel Domingues e de Mariana Bernarda Joaquina, naturais de Rio Grande. Gutierrez fala que as terras de Domingos faziam limite com as de seu sogro Manuel Domingues e com a morte da esposa Joana por volta de 1810 já tinham muitas terras na localidade chamada Cascalho, no arroio Pelotas (GUTIERREZ, 2001, 110-111). 

Com o aumento da população, próximo às charqueadas surge a freguesia de São Francisco de Paula em 1812 e tem início um mundo cada vez mais urbanizado. 



2. A urbanização e a construção do prédio (1832-1834) 



A população até então existente na região, vivia dispersa às margens dos arroios, junto às charqueadas, ou no Passo dos Negros, local onde se passava para ir-se a Rio Grande e concentrava um pouco mais de ranchos. A igreja, os charqueadores e as autoridades civis e militares decidem tentar a criação de uma freguesia, a primeira distinção de uma comunidade. 

Em 1812, Domingos de Castro Antiqueira era um dos moradores que opinavam no local para ser a sede da freguesia recém criada eclesiasticamente. Sua opinião era de que fosse instalada em terras de Isabel Francisca da Silveira, no Laranjal, porém a que venceu foi a do capitão-mor de Antônio Francisco dos Anjos, onde hoje está a Catedral de Pelotas.

Foi em terras de Antônio dos Anjos que surgiu o centro urbano. Este primeiro loteamento enquadra-se em parte dentro do quadrilátero formado pelas atuais ruas Marcílio Dias, General Neto, Almirante Barroso e Avenida Bento Gonçalves (ARRIADA, 1994, 95). Em 1830 a freguesia foi elevada a condição de Vila de São Francisco de Paula, embora só tenha sido instalada em 1832 com a ereção do pelourinho, a demarcação dos limites do município e a eleição dos vereadores. Foi neste período que se procedeu o segundo loteamento da cidade, em terras que foram recebidas em 1813 por Mariana Eufrásia da Silveira já falecida em 1827. 

A medição dos terrenos de Mariana Eufrásia se deu entre 1829 e 1830. E foi deles que Domingos de Castro Antiqueira comprou o terreno da esquina entre as ruas do Comércio (que surge na planta de 1815) e a do Poço (traçada em 1830), atuais Félix da Cunha (nome recebido em 1889, entre 1866 e 1889 chamou-se Rua do Imperador) e Sete de Setembro (nome recebido em 1857). Este terreno alcançava até a rua da Igreja (traçada em 1815 e que em 1869 foi chamada de General Vitorino para só em 1934 receber o nome atual de Anchieta). Foi no período entre a instalação da Câmara de Vereadores em 1832 e a elevação à condição de cidade, com o nome de Pelotas, em 1835 que o barão Domingos de Castro Antiqueira ergueu seu sobrado no centro urbano, pois na planta municipal de 1835 já aparece a indicação de construção nesta referida esquina. 


De seu inventário em 1852, Ester Gutierrez encontra a seguinte descrição do imóvel: 
Uma propriedade de casas de sobrado de cinco portas de frente leste pela rua do Comércio (atual Félix da Cunha) esquina sul pela rua do Poço (atual Sete de Setembro) com todo o terreno, que forma o quintal da maneira por que se acha amurado e desmembrado das outras propriedades, que vem a ter [77m] de frente oeste pela rua da Igreja (atual Anchieta), contando até a rua da Palma (desde 1869 chamada General Neto), e de [26,40m] de frente a rua do Comércio. 


A Cozinha ficava em separado no fundo da casa, junto ao pátio murado da rua da Igreja que encerrava também as cocheiras (GUTIERREZ, 2004, 414). Consta ainda do inventário de Domingos Antiqueira outras cinco casas de frente a leste pela atual Félix da Cunha alcançando a esquina com a rua General Neto. Nesta esquina Felisberto Braga construiu sua residência em 1871, provavelmente com planta do arquiteto José Isella. Este prédio foi adquirido em 1888 pelo Clube Comercial e ali funcionava em 1908 o escritório da Companhia Hidráulica Pelotense (CHEVALLIER, 2002, 124-126; 211).


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