O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público (2)
3. O Visconde de
Jaguary (1835-1852)
Embora não tendo êxito a proposta de Domingos Antiqueira de
instalar a freguesia em terras de Isabel Silveira no Laranjal, o charqueador muito
ajudou nas obras da igreja. Quando a comunidade fez a procissão para transferir
a imagem do padroeiro, da casa do Padre Felício para a igreja, os registros de
Vieira Pimenta contam que o comendador Domingos Antiqueira muito se gabou de
ter carregado a imagem sem um momento de descanso (NASCIMENTO, 1982, 16).
Em 1817, e provavelmente também em 1818 e 1819, Antiqueira
foi provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento e do Padroeiro São Francisco
de Paula criada no mesmo ano da freguesia. Neste ano ele promoveu aqui pela
primeira vez os festejos da Semana Santa (NASCIMENTO, 1982, 41; 50).
Mas foi quando um raio comprometeu a realização dos ofícios
religiosos na igreja, antes de 1826, que o comendador Antiqueira passou a
ajudar financeiramente na reconstrução e reformas que o prédio passou a
receber. A partir daí forma várias doações para ajudar na reconstrução de 1828,
na construção da capela-mor entre 1828-1834 e na construção do consistório
durante a Guerra Farroupilha. Entre 1850-1851 Antiqueira mandou fazer as suas
custas a torre norte da igreja (NASCIMENTO, 1982, 17; 20).
Nos anos de 1835, 1836 e 1849, Domingos Antiqueira foi Juiz
da festa de São Francisco de Paula, cargo da Irmandade do Santíssimo
responsável pela realização da festa do padroeiro.
Gutierrez investigou o inventário de Domingos e dele consta
um considerável patrimônio: terras, a charqueada, imóveis urbanos, uma chácara
junto à cidade, 40 escravos, além de apólices do Mercado Público e um camarote
no Teatro Sete de Abril. Legou para a igreja a quantia de 500$000 réis e uma
chácara na atual rua João Manuel que depois de arrematada rendeu 4:801$000
réis. Domingos era sem dúvida o maior benfeitor da igreja, sendo por isso, após
sua morte em 02/05/1852 sepultado dentro do templo e hoje seus restos estão à
entrada, na torre da direita, próximo a capela do Senhor dos Passos. Seu
sepultamento foi realizado com muita pompa e Nascimento assim diz:
O próprio [José Vieira] Pimenta, grande amigo do Visconde
encarregou-se do sepultamento e não poupou esforços ‘para tornar mais solene e
mais pomposos todos os atos fúnebres, os quais foram presenciados por todos os
habitantes de Pelotas que couberam na igreja’ (NASCIMENTO, 1982, 18).
Mas não foi apenas para a igreja que ele foi benfeitor, em
1826, Domingos aparece como doador de 200 contos de réis para auxiliar ao
Exército chefiado pelo General Lecor que lutava na Guerra Cisplatina, o que lhe
valeu a outorga da Comenda da Ordem de Cristo em 1826 e o título de Barão de
Jaguary em 1829 (MOREIRA, 1988, 99-100).
Em fevereiro de 1846, Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II
passou por Pelotas e entre outras coisas fez o lançamento da pedra fundamental
em terrenos doados por Mariana Eufrásia da Silveira para construção da nova
Matriz de Pelotas, o que nunca aconteceu. Nesta visita o Imperador ficou
hospedado no palacete do Barão de Jaguary na rua do Comércio esquina com a rua
do Poço. Este sobrado era a residência urbana do Barão. Depois desta visita ele
foi agraciado em 12/12/1846 com o título de Primeiro Visconde de Jaguary, com
grandeza (NASCIMENTO, 1989, 324). Quando Dom Pedro II retornou a Pelotas em
24/10/1865, hospedou-se ainda na rua do Comércio que depois desta visita passou
a ser chamada rua do Imperador. Porém seu anfitrião não foi mais Domingos
Antiqueira que já era falecido, mas sim no solar de Antônio Rodrigues Ribas na
esquina com a rua Martins Coelho (que em 1866 recebeu o nome de 24 de Outubro –
data da chegada da Comitiva imperial a Pelotas; e depois de 1889 rua
Tiradentes).
O Visconde casou três vezes. De sua primeira esposa Joana
Maria Bernardina não deixou descendentes. Só deixou descendentes de seu segundo
matrimônio com Maria Joaquina de Ávila Coelho. Maria Joaquina nasceu em
06/10/1795 em Piratini, filha do comendador José Martins Coelho, natural de
Santa Catarina e de Ana Maria de Ávila, natural de Rio Grande, ambos netos de
açorianos. O casamento de Maria Joaquina com Domingos Antiqueira se deu em
24/11/1810
Maria Joaquina faleceu por volta de 1829 e em 05/06/1830
Domingos Antiqueira casa-se com Leocádia Amália da Silveira em Pelotas de quem
também não deixa descendentes.
O Visconde de Jaguary deixou filhos apenas de seu segundo
casamento: Clara, Domingos, João, Maria Joaquina, Antônio e José. O casal ainda
teve outros filhos, nascidos e falecidos em Pelotas, provavelmente em sua
residência urbana: Ana (1821-1829), Genuína (1822-1829), Francisco (1824-1824),
Israel (1825-1825) e Francisca (1828-1829).
Sua primeira filha é Clara Joaquina, batizada na freguesia de
Povo Novo,
Domingos de Castro Antiqueira Filho, nascido em 1814 já
batizado em Pelotas, casado com Luciana Eulália da Silva Travassos, moradores
João Bento de Castro Antiqueira, nasceu em 09/10/1815 em
Pelotas, onde casou em 1836 com Rosa Angélica da Silveira. Deve ter falecido
antes de 1847 e sem descendentes, visto não ser mencionado no testamento do pai
escrito em 1847.
Maria Joaquina de Castro Antiqueira, nascida em 20/08/1817 em
Pelotas, onde casou com Joaquim Marques de Sousa, moradores
Antônio de Castro Antiqueira, nascido em 22/02/1819 em
Pelotas e casado com Clara Soares da Silva, moradores
José de Castro Antiqueira, nasceu em Pelotas em 23/05/1820,
deixou pelo menos uma filha natural tida com Ana Eulália da Silva Travassos,
moradores
Porém, o inventário do Visconde de Jaguary é do ano de 1852 e
em pesquisa realizada a este documento pode-se verificar que seus bens foram
herdados pela Viscondessa de Jaguary e os filhos do segundo casamento dele:
Domingos de Castro Antiqueira, Maria Joaquina Marques de Souza, Antonio de Castro
Antiqueira, José de Castro Antiqueira e os netos por sua filha já falecida
Clara Joaquina Paiva, que moravam
Leocádia, a Viscondessa, nasceu na freguesia do Estreito,
filha de João Silveira da Rosa, natural da Enseada do Brito
A Viscondessa dita seu testamento em sua casa na cidade do
Rio Grande em 05/09/1866, onde falece em 22/11/1866. Seus herdeiros são: a irmã,
também testamenteira e inventariante Rosa Alexandrina da Silveira, casada com
Sebastião Borges de Oliveira. A sobrinha e afilhada Leocádia Breckenfeldt que recebe
um lance de casas na rua do Imperador. A sobrinha Maria Barbosa Breckenfeldt a
quem legou seus móveis, louças, demais utensílios de sua casa e 8 escravos,
sendo que uma escrava faleceu logo após a Viscondessa.
Mas o que nos interessa aqui é o “sobrado de cinco portas de
frente situado em Pelotas à rua do Imperador esquina Sete de Setembro com fundos
à rua da Igreja e o seu respectivo quintal”, avaliado em 12:000$000 réis e que
foi comprado por dona Zeferina Maria Gonçalves da Cunha no ano de 1867.
A Viscondessa deixou muitas dívidas, e o dinheiro da venda do
sobrado foi destinado ao seu pagamento. Algumas eram: 827$660 para o pagamento
do funeral da Viscondessa que teve até uma orquestra contratada para acompanhar
o funeral; 300$000 para o credor João Bento; 3.487$000 ao credor Cândido dos
Santos Xavier; 149$465 para o credor Bento Alves Rebello & companhia;
43$340 ao credor Manuel Matias da Terra Velho; 1:501$683 para a credora
Vicência Maria da Fontoura, 36$000 ao Dr. Octacílio Camará (médico que a
atendeu em 7 encontros, inclusive um às 2h da madrugada); e 4:806$625 que coube
a Rosa Alexandrina, sendo o restante líquido da herança.
A pesquisadora Eleonora Malet observa do processo de
inventário que a Viscondessa tinha dificuldades financeiras em se manter. As
dívidas em sua maioria se referiam a compras de roupas, serviços médicos e
empréstimos. A Viscondessa fez seu testamento e faleceu
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