O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público (3)
A compradora do sobrado era Dona Zeferina Maria Gonçalves,
nascida em 15/09/1804 em Canguçu, filha de Felisberto Gonçalves Leal, natural
de Rio Pardo e de Ana Maria de Jesus Sousa Oliveira, natural de Mostardas.
Zeferina casou-se em Canguçu com José Inácio Gomes da Cunha, nascido em 1797
José Inácio foi vereador pelotense entre 1849 e 1851 e
faleceu em Pelotas em 03/09/1865. Em 31/10/1865 consta de seu inventário uma
procuração de Zeferina declarando-se moradora nos subúrbios da cidade o que
comprova que não eram moradores do sobrado e que foi ela quem comprou em 1867 o
sobrado, passando daí em diante a ser sua residência.
A família de Dona Zeferina e do vereador Cunha tinha destaque
local, assim como o casal Jaguary. O Vereador José Inácio foi um homem público
e dona Zeferina uma mulher empenhada com as causas religiosas e sociais. Talvez
uma das maiores obras sociais feitas por dona Zeferina foi a construção da
capela no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, no atual bairro do Fragata.
Os enterros neste campo santo começaram em 1856 e se fazia necessário uma
capela para ali rezar as missas do Dia de Finados. Dona Zeferina mandou
construir às suas custas a capela entre as catacumbas da Irmandade do
Santíssimo e da de Nossa Senhora do Rosário. Ela e o marido eram irmãos do
Santíssimo. Depois de pronta a capela foi dedicada ao Senhor do Bonfim em 1880.
Dona Zeferina era a verdadeira matriarca da família e faleceu em 29/05/1886 em
Pelotas, sendo sepultada a direita da porta da Capela que mandou construir
(NASCIMENTO, 1982, 27).
Os nomes de Zeferina e seu marido, assim como de seus filhos
Possidônio e Felisberto também são citados nos registros da Irmandade do
Santítissimo Sacramento e do Padroeiro doando e auxiliando a Igreja em Pelotas.
Seus filhos todos já adultos e com destaque na sociedade
pelotense: os dois filhos são o comendador, vereador e diretor da Companhia
Hidráulica, Possidônio Mâncio da Cunha, nascido em 21/05/1822 em Pelotas e
casado com Maria Bernardina Dias, de Rio Grande; e Felisberto Inácio da Cunha,
o Barão de Correntes, nascido em Canguçu em 11/11/1824, casado em 1852 em
Pelotas com Maria Antônia Coelho, falecida em 1865 e em segundas núpcias em
1866 com Silvana Belchior, falecida em 1877
Dona Zeferina fez seu testamento em 30/09/1880, no sobrado da rua do
Imperador, deixando bens aos filhos Possidônio, Felisberto e Arminda. Mas o
sobrado que nos interessa foi dividido apenas entre as filhas Teresa, Maria
Praxedes e aos netos Francisca e Carlos, filhos de Umbelina, sua filha já
falecida.
6. Herdeiros de
Zeferina Cunha
Foi justamente na sucessão de Zeferina que a propriedade do palacete se
fragmenta. O imóvel é avaliado em 30:000$000 réis sendo partilhado em valor, da
seguinte forma: para a filha Tereza da Cunha são 10 contos de réis; para a
filha Maria Praxedes da Cunha são outros 10 contos de réis e os 10 contos de
réis restantes para a filha Umbelina Teresa da Cunha, falecida antes de 1865,
foram divididos entre seus dois filhos, netos de Zeferina: Francisca Umbelina
Flores com 5 contos de réis e Carlos Augusto Flores com mais 5 contos de réis.
Com o sobrado dividido entre os 4 herdeiros, com base em valores, acabou possibilitando
a compra e venda posterior entre eles, ou com terceiros. A sucessão se deu da
seguinte forma:
A filha Teresa da Cunha, nasceu em 05/03/1829 em Pelotas onde casou em
1852 com Felisberto José Gonçalves Braga, rico charqueador, falecido em
A filha Maria Praxedes da Cunha, nasceu em 21/07/1832 em
Pelotas, onde casou em 1862 com Joaquim Rasgado Filho, natural de Rio Grande.
Maria Praxedes faleceu em 12/10/1904 e deixou sua parte dividida em duas
partes, metade para o marido e a outra a ser dividida entre seus 3 filhos:
Joaquim Rasgado Neto, casado, morador em Pelotas e sem descendentes; José
Inácio da Cunha Rasgado, casado e morador
A filha Umbelina Teresa da Cunha, nasceu em 13/03/1821 em
Pelotas e casou com Francisco da Silva Flores, natural de Rio Grande. Umbelina
faleceu em 1848 e deixou 2 filhos: Francisca Umbelina e Carlos Augusto.
Francisca Umbelina Flores, nascida em Pelotas em 1847, casou
com Eduardo Paulino Castell de quem teve filhos entre 1869 e 1878. No processo
de inventário da avó Zeferina, consta um pedido da herdeira Francisca Umbelina
ao juiz, solicitando um alvará de licença para a venda de sua parte na
Charqueada, visto que a mesma necessitaria de reformas e que a renda obtida por
ela não a recompensaria, além de não ter o valor necessário para reformas.
Alega ainda que o marido há mais de 20 anos se retirara de Pelotas indo para o
Pará e de lá para lugar ignorado. A licença foi dada pelo Juiz. Da mesma forma
Francisca Umbelina fez com sua parte no sobrado, vendendo em 21/03/1908 para
Eduardo Augusto de Menezes que já era proprietário da casa térrea ao lado do
palacete.
O mesmo provavelmente fez seu irmão, dr. Carlos Augusto
Flores, nascido em 1845, casado, morador no Rio de Janeiro. Sua parte aparece
em mãos do primo Artur Otaviano Braga, nascido em 1853 em Pelotas e que aparentemente
teria comprado a parte de Carlos Augusto, já que não herdou nada por sua mãe
Teresa da Cunha. Artur faleceu em 1906 em Pelotas, e deixou sua parte em
inventário para os filhos: Carlos Alberto Braga, ainda menor e Álvaro Otaviano
Braga que vendeu sua parte em 25/06/1908 para Tibério Teixeira de Lima.
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