quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Palacete do Visconde - parte 3

O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público (3) 


Fonte: BETEMPS, Leandro R. O Palacete do Visconde: uma vocação ao serviço público - parte 3. Diário da Manhã, Pelotas, p. 12 - 12, 17 maio 2008.


5. A Dona Zeferina da Cunha (1867-1886)



A compradora do sobrado era Dona Zeferina Maria Gonçalves, nascida em 15/09/1804 em Canguçu, filha de Felisberto Gonçalves Leal, natural de Rio Pardo e de Ana Maria de Jesus Sousa Oliveira, natural de Mostardas. Zeferina casou-se em Canguçu com José Inácio Gomes da Cunha, nascido em 1797 em Rio Grande.

José Inácio foi vereador pelotense entre 1849 e 1851 e faleceu em Pelotas em 03/09/1865. Em 31/10/1865 consta de seu inventário uma procuração de Zeferina declarando-se moradora nos subúrbios da cidade o que comprova que não eram moradores do sobrado e que foi ela quem comprou em 1867 o sobrado, passando daí em diante a ser sua residência.

A família de Dona Zeferina e do vereador Cunha tinha destaque local, assim como o casal Jaguary. O Vereador José Inácio foi um homem público e dona Zeferina uma mulher empenhada com as causas religiosas e sociais. Talvez uma das maiores obras sociais feitas por dona Zeferina foi a construção da capela no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, no atual bairro do Fragata. Os enterros neste campo santo começaram em 1856 e se fazia necessário uma capela para ali rezar as missas do Dia de Finados. Dona Zeferina mandou construir às suas custas a capela entre as catacumbas da Irmandade do Santíssimo e da de Nossa Senhora do Rosário. Ela e o marido eram irmãos do Santíssimo. Depois de pronta a capela foi dedicada ao Senhor do Bonfim em 1880. Dona Zeferina era a verdadeira matriarca da família e faleceu em 29/05/1886 em Pelotas, sendo sepultada a direita da porta da Capela que mandou construir (NASCIMENTO, 1982, 27).



Os nomes de Zeferina e seu marido, assim como de seus filhos Possidônio e Felisberto também são citados nos registros da Irmandade do Santítissimo Sacramento e do Padroeiro doando e auxiliando a Igreja em Pelotas.

Seus filhos todos já adultos e com destaque na sociedade pelotense: os dois filhos são o comendador, vereador e diretor da Companhia Hidráulica, Possidônio Mâncio da Cunha, nascido em 21/05/1822 em Pelotas e casado com Maria Bernardina Dias, de Rio Grande; e Felisberto Inácio da Cunha, o Barão de Correntes, nascido em Canguçu em 11/11/1824, casado em 1852 em Pelotas com Maria Antônia Coelho, falecida em 1865 e em segundas núpcias em 1866 com Silvana Belchior, falecida em 1877 em Pelotas. Conhecido por ter uma alma bondosa e dedicado ao bem estar do povo. Abolicionista, Felisberto alforria 200 escravos de seus estabelecimentos o que lhe garante o título de barão em 1884 (SPALDING, 1973, 104). Foi membro ativo do Partido Liberal e em 1878 nomeado Comandante da Guarda Nacional desta Comarca. É possível que o Barão de Correntes tenha morado com a mãe no palacete da rua do Comércio ou então ter alugado o sobrado no período entre a morte dela e a sua própria, pois existe uma tradição oral que diz o imóvel ter sido moradia do Barão, o que não pudemos confirmar. O certo é que o Barão de Correntes teve reveses na vida, ficou viúvo por duas vezes, tendo filhos menores a criar. O Barão foi um negociante que teve sociedade com charqueadores, e juntou fortuna. Mas negócios desastrosos causaram-lhe grandes prejuízos que o fizeram vender bens e se adaptar. Poderia ter sido nesta época que tenha morado ali (OSÓRIO, 1962, 101).

Dona Zeferina fez seu testamento em 30/09/1880, no sobrado da rua do Imperador, deixando bens aos filhos Possidônio, Felisberto e Arminda. Mas o sobrado que nos interessa foi dividido apenas entre as filhas Teresa, Maria Praxedes e aos netos Francisca e Carlos, filhos de Umbelina, sua filha já falecida.

 

6. Herdeiros de Zeferina Cunha


Foi justamente na sucessão de Zeferina que a propriedade do palacete se fragmenta. O imóvel é avaliado em 30:000$000 réis sendo partilhado em valor, da seguinte forma: para a filha Tereza da Cunha são 10 contos de réis; para a filha Maria Praxedes da Cunha são outros 10 contos de réis e os 10 contos de réis restantes para a filha Umbelina Teresa da Cunha, falecida antes de 1865, foram divididos entre seus dois filhos, netos de Zeferina: Francisca Umbelina Flores com 5 contos de réis e Carlos Augusto Flores com mais 5 contos de réis. Com o sobrado dividido entre os 4 herdeiros, com base em valores, acabou possibilitando a compra e venda posterior entre eles, ou com terceiros. A sucessão se deu da seguinte forma:

A filha Teresa da Cunha, nasceu em 05/03/1829 em Pelotas onde casou em 1852 com Felisberto José Gonçalves Braga, rico charqueador, falecido em 1875. A família Braga teve dificuldades financeiras após a morte de Felisberto e passaram a vender os bens. Teresa faleceu um ano depois de sua mãe, em 04/11/1887. Em seu inventário são distribuídos os bens que restaram para os filhos Firmiana da Cunha Braga, Natália da Cunha Braga, Artur Otaviano Braga e Alfredo Augusto Braga. O seu 1/3 do sobrado foi dividido apenas entre as duas filhas: Firmiana Braga, nascida em Pelotas em 1852 onde faleceu em 1914, casada em 1882 com Eufrásio Lopes de Araújo Filho, natural do Rio de Janeiro e falecido em 1883 sem descendentes. E Natália Braga, nascida em Pelotas em 1864 e falecida em 1924 solteira.

A filha Maria Praxedes da Cunha, nasceu em 21/07/1832 em Pelotas, onde casou em 1862 com Joaquim Rasgado Filho, natural de Rio Grande. Maria Praxedes faleceu em 12/10/1904 e deixou sua parte dividida em duas partes, metade para o marido e a outra a ser dividida entre seus 3 filhos: Joaquim Rasgado Neto, casado, morador em Pelotas e sem descendentes; José Inácio da Cunha Rasgado, casado e morador em Porto Alegre;  e Noemi Rasgado, casada com Alexandre Grosse e moradora na Alemanha.

A filha Umbelina Teresa da Cunha, nasceu em 13/03/1821 em Pelotas e casou com Francisco da Silva Flores, natural de Rio Grande. Umbelina faleceu em 1848 e deixou 2 filhos: Francisca Umbelina e Carlos Augusto.

Francisca Umbelina Flores, nascida em Pelotas em 1847, casou com Eduardo Paulino Castell de quem teve filhos entre 1869 e 1878. No processo de inventário da avó Zeferina, consta um pedido da herdeira Francisca Umbelina ao juiz, solicitando um alvará de licença para a venda de sua parte na Charqueada, visto que a mesma necessitaria de reformas e que a renda obtida por ela não a recompensaria, além de não ter o valor necessário para reformas. Alega ainda que o marido há mais de 20 anos se retirara de Pelotas indo para o Pará e de lá para lugar ignorado. A licença foi dada pelo Juiz. Da mesma forma Francisca Umbelina fez com sua parte no sobrado, vendendo em 21/03/1908 para Eduardo Augusto de Menezes que já era proprietário da casa térrea ao lado do palacete.

O mesmo provavelmente fez seu irmão, dr. Carlos Augusto Flores, nascido em 1845, casado, morador no Rio de Janeiro. Sua parte aparece em mãos do primo Artur Otaviano Braga, nascido em 1853 em Pelotas e que aparentemente teria comprado a parte de Carlos Augusto, já que não herdou nada por sua mãe Teresa da Cunha. Artur faleceu em 1906 em Pelotas, e deixou sua parte em inventário para os filhos: Carlos Alberto Braga, ainda menor e Álvaro Otaviano Braga que vendeu sua parte em 25/06/1908 para Tibério Teixeira de Lima.  





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