Augusto Pastorello. Acervo família Lino Ribes.
A
Colônia Francesa em Pelotas teve dois aspectos diferenciados em sua presença.
Uma leva de franceses se fixou na zona urbana e outra leva na zona rural.
Embora assim tenha ocorrido e cada uma das levas tenha características
específicas, ambas não ficaram isoladas nem uma da outra, nem com a sociedade
pelotense que na época tanto valorizava o espírito da civilização francesa.
Exemplo
disso é Auguste Louis Marius Pastorello, nascido em Pignans, no departamento de
Var, ao sul da França em 16.05.1875. Seus pais são os piemonteses Domenico
Pastorello e Catarina Magdalena Constantina Augieri que emigraram para a França e ali casaram.
Registro de nascimento de Augusto Pastorello na França - État Civil de Pignans, 1875
O
casal Pastorello procurando melhores condições de vida resolve emigrar para o
Brasil, chegando em 03.12.1876 na colônia São Feliciano, hoje município de Dom
Feliciano, no Rio Grande do Sul e dali partindo em dezembro de 1880 para a Colônia Francesa de Santo Antônio do Quilombo, interior do município de
Pelotas.
Carta datilografada deixada por Augusto Pastorello onde narra fatos sobre a vinda da família para o Brasil. Acervo da família Lino Ribes.
No
ano de 1892, aos 17 anos, ele acompanha a família que transfere residência para
a cidade de Pelotas. Seu pai, Domingos, estava desgostoso com a destruição de
seu parreiral na Colônia Francesa, devido a uma violenta chuva de pedras. Domingos
vendeu a propriedade e estabeleceu uma casa comercial na cidade, em sociedade
com o filho Augusto, onde este trabalhou por 3 anos. Ao deixar o comércio,
decidiu dedicar-se à escultura e gravura, praticando também o desenho e
exercendo a partir daí estas profissões.
Assinatura de Augusto Pastorello gravada em placa alusiva ao Asilo de Órfãs. Foto por Leandro Betemps, 2010.
Em
12.05.1898, Augusto Pastorello casa-se com Francisca Flores Alsina, sobrinha do
espanhol Francisco Alsina, que foi vice-cônsul de Espanha em Pelotas,
negociante de secos e molhados e Presidente da primeira diretoria do recém
fundado Club Comercial de Pelotas, em 1881. Augusto e Francisca tiveram 4
filhos: Elvira, Carmem e Augusto, todos solteiros e Diva que casou com Eduardo
Maurell Filho, mas que não deixaram descendentes.
Placa para o Asilo de Órfãs. Foto por Leandro Betemps, 2010.
Em
1900, volta com o pai para Santo Antônio e lá o auxilia na instalação de uma
pequena fábrica artesanal de conservas. Augusto aprende litografia e desenha os
rótulos para os produtos. Para imprimi-los, seu gênio inventivo criou uma
impressora e guilhotina, onde a maioria das peças foi feita por ele em sua
oficina. Em outubro de 1907, decide mudar-se definitivamente para a cidade onde
sua oficina litográfica recebeu inovações. Nessa época, encomendou da França uma
máquina tipográfica e passou a imprimir trabalhos literários.
Aos
poucos, passou a dedicar-se exclusivamente à arte da escultura. Realizou vários
trabalhos dos quais citamos alguns, por ordem cronológica:
-
1928, o altar de São Francisco de Paula, da Igreja Matriz Sagrado Coração de
Jesus;
-
1929, o busto de Manuel Moralles, o primeiro Presidente do Clube Caixeiral, sob
encomenda deste Clube;
-
1930, o busto do pintor pelotense Leopoldo Gotuzzo;
-
1930, o busto de Yolanda Pereira, Miss Universo;
-
1935, a
herma de Bento Gonçalves, por encomenda da Prefeitura de Piratini;
-
1945, o monumento ao médico dr. Armando Fagundes, instalado na praça Cypriano
Barcellos, feito gratuitamente pelo artista;
-
1963, o busto em bronze de Francisco Lobo da Costa situado no cruzamento das
ruas Almirante Barroso e General Argolo.
E
ainda digno de nota, temos notícia de um busto de Fernando Luiz Osório e outro
de Ildefonso Simões Lopes, além de diversas placas em bronze com as quais
Pelotas homenageou homens e comemorou fatos.
Placa para Lobo da Costa, na fachada do Prédio da Bibliotheca Pública Pelotense.
Foto por Leandro Betemps, 2004.
Augusto
Pastorello é um dos expoentes da colonização francesa em Pelotas. Sempre
manteve ligações com esta Colônia onde vivia sua família. Sua origem era
italiana, mas italianos do Piemonte, noroeste da Itália, onde a cultura
francesa influencia a cultura italiana. O que depois foi reforçado com a
mudança de seus pais para a França e de lá como franceses radicados vindos ao sul do Brasil.
Augusto
em 06.05.1890 se declara na Câmara de Pelotas como negando a naturalização
brasileira agraciada pela recém proclamada República, ele assina sua declaração
querendo permanecer francês até a morte em 02.07.1968, na cidade de Pelotas.
Augusto Pastorello. Acervo da família Lino Ribes.
BETEMPS, Leandro Ramos. Augusto Pastorello: o escultor dos franceses in Povoadores de Pelotas - RS/Brasil. Disponível em: https://povoadoresdepelotas.blogspot.com.br/2018/03/augusto-pastorello-o-escultor-dos.html. Acesso em: [inclua a data da consulta].